O
número de pessoas infectadas pela dengue mais que triplicou no Brasil
entre 2009 e 2010, passando de 323.876 para 999.688, segundo dados
preliminares do Ministério da Saúde, obtidos com exclusividade pelo
R7.
No mesmo período, 572 pessoas morreram pela doença. De 1º a 28 de
janeiro deste ano, foram notificados 26.034 casos da doença no país –
desses, 101 foram casos graves.
Neste montante, as regiões Sul e Sudeste se destacam porque, juntas,
apresentam um crescimento de 375% no número de casos de um ano para o
outro. Em 2010, 473.994 pessoas foram infectadas no Sudeste, frente aos
106.942 casos confirmados na região em 2009. Apesar de o Sul ser a
região com a menor incidência de dengue, o número de pessoas infectadas
de um ano para o outro aumentou mais de 40 vezes no território, de 1.653
em 2009 para 42.707 em 2010.
Esse grande salto tem o Paraná como “vilão”, já que os 38.769 casos de
dengue confirmados em 2010 no Estado correspondem a mais de 90% de todos
registrados na região Sul. Em 2009, a dengue foi bem mais branda no
Estado, em um total de 1.527 pessoas infectadas.
Faltou prevenção no Sul
De acordo com Sezifredo Paz, superintendente da Vigilância em Saúde da
Secretaria Estadual de Saúde do Paraná, a principal causa desse fenômeno
é a falta de prevenção.
Segundo ele, vários municípios do Estado reduziram o número dos serviços
de combate à dengue ao longo de 2009. Ao chegar o verão de 2010,
estação mais propensa aos surtos, o Estado desprotegido virou palco da
epidemia. As cidades mais afetadas foram as do Norte, sobretudo
Londrina, Oeste e Noroeste do Estado.
- Muitos municípios desestruturaram seus serviços de prevenção, e isso
fez com que o combate ao mosquito fosse mal feito, principalmente pela
falta de agentes de controle de endemia. Não houve bloqueio e o número
de casos explodiu.
Paz
admite que o problema permanece em 2011. Já foram notificados mais de
5.000 casos, sendo 582 confirmados até 4 de fevereiro, segundo a
Secretaria Estadual de Saúde do Paraná.
A criação de um novo plano emergencial de combate a dengue,
implementado no começo desse ano pelo governo, tem o objetivo de
melhorar a prevenção e o tratamento dos doentes, em especial nas regiões
onde já foram apontados surtos.
Para isso, um gabinete estratégico foi criado para acompanhar a
evolução da dengue no Estado e selecionar quais medidas terão de ser
feitas em cada município.
O clima quente e chuvoso, assim como a reintrodução de dois
diferentes tipos de dengue no Estado, os sorotipos 1 e 2, a que a
população não tinha mais imunidade, também contribuíram para a epidemia
no Estado, diz Paz.
No caso da dengue, quando uma pessoa é infectada com um dos quatro
tipos de vírus da doença, ela se torna imune a esse sorotipo, mas
continua vulnerável aos outros três. Com a volta de um tipo de vírus, as
pessoas que não entraram em contato com ele correm mais risco de se
infectar.
A última epidemia de dengue no Paraná ocorreu em 2007 em decorrência
da dengue tipo 3. Em 2008 e 2009 esse sorotipo se manteve no Estado,
tempo que levou parte da população a ficar imune à dengue, o que se
refletiu na diminuição do número de pessoas infectadas.
No Rio Grande do Sul também houve uma grande variação de casos de
dengue de um ano para o outro. Enquanto em 2009 foram registrados 72
casos no Estado, em 2010 o número saltou para 3.718.
Para Jair Ferreira, professor de epidemiologia da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, 2010 foi o ano da primeira epidemia de
dengue no Estado.
- Até então só tínhamos casos de pessoas que vinham de outros lugares
com a doença incubada ou doentes. O clima quente e chuvoso de 2010 fez
com que começasse o ciclo de transmissão interna.
Já para Marilina Bercini, coordenadora de divisão de vigilância
epidemiológica da Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul, foi
o verão gaúcho de 2010, muito quente e chuvoso, que impulsionou a
proliferação do mosquito Aedes aegypti, vetor da doença. Além disso, a
falta de imunidade da população a outros tipos de dengue que chegaram ao
Estado fez com que ocorressem os surtos.
- Essa situação sinalizou a importância de implementar cada vez mais as atividades preventivas.
Sudeste: aglomeração favorece surtos e epidemia
É compreensível que na região mais populosa do país haja muitos casos
de dengue. Mas, assim como São Paulo, onde de um ano para o outro o
grau da epidemia foi muito maior, Minas Gerais também teve um salto no
número de casos. Em 2010, o Estado mineiro registrou 212.276 pessoas com
a doença, muito acima dos 55.505 casos de 2009. São Paulo registrou
208.097 casos em 2010, frente a 12.154 um ano antes.
Assim como nos Estados do Sul, fatores climáticos e a circulação de
outros sorotipos da dengue ajudaram a causar a epidemia em Minas,
segundo Francisco Lemos, Superintendente de Vigilância Epidemiológica,
da Secretaria Estadual de Saúde.
- O ano de 2010 se caracterizou pela recirculação do vírus 1 no
Estado de Minas Gerais e em outros da federação. Esse vírus não
predominava em Minas desde o ano 2000. Isto levou ao acúmulo de pessoas
suscetíveis ao vírus 1, o que explica não só o aumento da circulação,
como também ao aumento do número de casos graves.
Lemos lembra ainda que a transmissão ocorrida na região metropolitana
de Belo Horizonte, onde se concentra 25% da população do Estado, pode
explicar a epidemia.
- A aglomeração da população favorece a disseminação da doença, uma
vez que o vetor é bastante ativo e tem capacidade de picar várias
pessoas em um curto espaço de tempo.
São Paulo também culpa o clima pela infestação de dengue no Estado em
2010, mas afirma que vem reforçando ações de prevenção diminuir a
possibilidade de uma nova epidemia em 2011.
Em nota enviada por e-mail ao
R7, a secretaria
ressalta que “50 dos 645 municípios paulistas responderam por cerca de
80% dos casos de dengue no Estado de São Paulo”, reforçando a ideia de
que não há uma epidemia no Estado.
Para evitar que haja explosão de casos como no verão de 2010, a secretaria investe em prevenção.
- Ao longo do segundo semestre de 2010 a Secretaria de Estado da
Saúde desenvolveu trabalho de capacitação de 6.000 agentes em todo o
Estado de São Paulo para aprimorar o trabalho de controle de vetores e
atendimento aos cidadãos com suspeita de dengue. Foram realizadas, no
total, 51 oficinas, envolvendo 330 municípios considerados prioritários.